Isabella Ianelli
Se
observamos há algum tempo uma geração criada à base de leite e pêra, cercada de
mimos, já era de se esperar que estes homens mimados uma hora se tornassem
pais.
Frutos
de uma classe média zelosa e protetora, estes pais (e aqui me refiro também às
mães) agora exercem suas facetas mimadas no cuidado com os filhos. Este
comportamento egoísta e mesquinho passa a ser exacerbado e levado ao extremo
quando envolve crianças ditas inocentes, doces, meigas e suaves.
Para
os pais mimados que mimam será parte de sua missão aqui na terra livrar seu
filho de qualquer empecilho e obstáculo natural e necessário, tal qual como
tédio, bagunça, tio chato, normas da sociedade, rituais da nossa cultura etc.
Para um pai mimado, a vontade do filho não precisa ter limites.
A seguir
alguns dos principais comportamentos na relação que os pais mimados estabelecem
com seus filhos.
Eles
fazem da criança o centro da casa
Talvez
uma das principais características dos pais que mimam seja o fato de a rotina
da casa ser adequada de acordo com as vontades da criança. Cadeirão da comida
na frente da televisão, horários não determinados, cadeira distrativa para
entreter o bebê, produtos, acessórios, engenhocas específicas, tudo
essencialmente voltado para ele. E para a loucura da casa.
Em
French Children Don’t Throw Food, Pamela Druckerman conta o que faz das
crianças francesas mais comportadas. Entre pesquisas, entrevistas e exemplos, a
autora mostra que o fato dos pais franceses não tratarem as crianças como
centro da casa é essencial para que elas entendam que se adequarão a um modelo
já existente – e não o contrário! Tratar a criança como o centro da rotina de
toda a casa é a base de uma educação de mimados para mimados.
“Para
a geração de meus avós e de meus pais, a vida dos adultos não devia ser
decidida em função do interesse das crianças, até porque o principal interesse
das crianças era sua transformação em adulto” –Contardo Calligaris
Eles
acreditam que criança só come bife e batata frita
Com
certeza ele já tem idade para saber o que é mais saudável.
Por
terem suas vontades tomadas como verdade absoluta, é claro que estas crianças
não comeriam o que os pais comem. Ou porque é temperado demais, ou porque tem
vegetais e uma vez ele recusou ou porque, veja só, Pedrinho só come macarrão
com manteiga, não aceita outra coisa.
Cada
vez mais comum nos restaurantes, o cardápio kids fica sempre entre opções não
muito criativas: macarrão, bife, batata frita. E se mesmo assim a criança
recusa o almoço, existe um leque de industrializados que será oferecido em
pouco tempo para que o pimpolho não passe fome: bolacha, salgadinho, achocolatado,
sucos açucarados…
Além
de nada saudável, isto é um alerta de mimo: criança come o que você ensina a
comer. É muito mais simples achar sabor num macarrão do que, de cara, numa
couve-flor.
Lição
de casa para os pais que tendem a mimar: ler os escritos de Pat Feldman a
respeito dos pequenos e entender que o gosto pela comida é construído.
Conjuntamente, na mesa de refeição, estimulando que experimentem, entendendo o
apetite da criança e respeitando seu gosto. Sempre ensinando que parte
importante da refeição é o convívio com os outros e demonstrando respeito pela
comida que foi feita em casa e que será a base da refeição de todos que por ali
moram.
Eles
não conversam, distraem
É
comum olhar para o lado no restaurante e encontrar uma criança hipnotizada por
um iPad. Ou no carro com iPod e fones, alheia às interações do ambiente ou à
ausência delas. Aliados dos pais mimados, as engenhocas tecnológicas ajudam a
criança a não se frustrar, não lidar com o tédio de um restaurante repleto de
adultos, de um carro sem atrativos, de uma vida inteira que às vezes não tem
grandes aventuras mesmo.
Mas,
ora, por mais que pais se esforcem para preencher este vazio intrínseco aos
filhos, ele não será preenchido. Proteger um filho é uma missão fadada ao
fracasso, já atestou Eliane Brum.
Eles
não confiam na escola
Julio
Groppa Aquino diz que nós, educadores destes tempos modernos, nada mais somos
do que babás. “Babás+”, foi o termo engraçadinho sugerido por ele para colocar
em pauta esta realidade de pais que não querem saber das relações, dos
aprendizados, do ensino, das evoluções de suas crianças. Exigem em primeiro
lugar que sua cria seja mimada pela escola, aplaudida a todo momento, nunca
confrontada.
Não
confiar em quem se confiou a educação dos filhos é uma grande insegurança,
certamente um sinal de pais mimados. Nota baixa é culpa do professor,
comportamento ruim é culpa da escola e a comunidade é cruel e não ideal para
ensinar seu filho a lidar com a vida.
Antes
a criança respondia à escola, agora é a escola que responde à criança.
Eles
elogiam muito a cria
Prática
comum entre os pais zelosos, elogiar a criança faz bem, aumenta sua autoestima,
favorece o desenvolvimento da criança, dá segurança, correto? Errado.
No
livro Filhos: novas ideias sobre educação, Po Bronson e Ashley Merryman contam
de recentes pesquisas que mostram, entre outras coisas, o poder inverso do
elogio.
A
explicação é muito simples: assegurar a todo momento que seu filho é
inteligente faz com que a criança se torne insegura desta sua condição. E, por
medo de errar e perder o título da inteligência, a criança passa a arriscar
menos e a se esconder atrás desta máscara. Cheia de inseguranças e com um
batalhão de elogios vazios (que recebeu sem perceber seus esforços), está aí um
bom início de frustração para o pimpolho.
Em
comum, o que todos estes tópicos têm é que tratam a criança como um frágil
cristal. Delicada, fruto de uma imaginação romântica de pureza, incapaz de
lidar com qualquer obstáculo. Sabemos que frustração é algo que ninguém quer
para sua cria. Mas é só o que a vida garante.
Que
tal começar a criar seu filho para o mundo?