domingo, 27 de julho de 2014

O CONVITE



Não me interessa saber como você ganha a vida. Quero saber o que mais deseja e se ousa sonhar em satisfazer os anseios do seu coração.
Não me interessa saber sua idade. Quero saber se você correrá o risco de parecer tolo por amor, pelo seu sonho, pela aventura de estar vivo. Não me interessa saber que planetas estão em quadradura com sua lua. O que eu quero saber é se você já foi até o fundo de sua própria tristeza, se as traições da vida o enriqueceram ou se você se retraiu e se fechou, com medo de mais dor. Quero saber se você consegue conviver com a dor, a minha ou a sua, sem tentar escondê-la, disfarçá-la ou remediá-la.
Quero saber se você é capaz de conviver com alegria, a minha ou a sua, de dançar com total abandono e deixar o êxtase penetrar até a ponta dos seus dedos, sem nos advertir que sejamos cuidadosos, que sejamos realistas, que nos lembremos das limitações da condição humana.
Não me interessa se a história que você me conta é verdadeira. Quero saber se é capaz de desapontar o outro para se manter fiel a si mesmo. Se é capaz de suportar uma acusação de traição e não trair sua própria alma, ou ser infiel e, mesmo assim, ser digno de confiança.
Quero saber se você é capaz de enxergar a beleza no dia-a-dia, ainda que ela não seja bonita, e fazer dela a fonte de sua vida.
Quero saber se você consegue viver com o fracasso, o seu e o meu, e ainda assim pôr-se de pé na beira do lago e gritar para o reflexo prateado da lua cheia: “Sim!”
Não me interessa saber onde você mora ou quanto dinheiro tem. Quero saber se, após uma noite de tristeza e desespero, exausto e ferido até os ossos, é capaz de fazer o que precisa ser feito para alimentar seus filhos.
Não me interessa quem você conhece ou como chegou até aqui. Quero saber se vai permanecer no centro do fogo comigo sem recuar.
Não me interessa onde, ou com quem estudou. Quero saber o que o sustenta, no seu íntimo, quando tudo mais desmorona.
Quero saber se é capaz de ficar consigo mesmo e se nos momentos vazios realmente gosta da sua companhia.

Oriah Mountain Dreamer

domingo, 20 de julho de 2014

DA SOLIDÃO

Foto: Valmir Singh

Há muitas pessoas que sofrem do mal da solidão. Basta que em redor delas se arme o silêncio, que não se manifeste aos seus olhos nenhuma presença humana, para que delas se apodere imensa angústia: como se o peso do céu desabasse sobre sua cabeça, como se dos horizontes se levantasse o anúncio do fim do mundo.
No entanto, haverá na terra verdadeira solidão? Não estamos todos cercados por inúmeros objetos, por infinitas formas da Natureza e o nosso mundo particular não está cheio de lembranças, de sonhos, de raciocínios, de ideias, que impedem uma total solidão?
Tudo é vivo e tudo fala, em redor de nós, embora com vida e voz que não são humanas, mas que podemos aprender a escutar, porque muitas vezes essa linguagem secreta ajuda a esclarecer o nosso próprio mistério. Como aquele Sultão Mamude, que entendia a fala dos pássaros, podemos aplicar toda a nossa sensibilidade a esse aparente vazio de solidão: e pouco a pouco nos sentiremos enriquecidos.
Pintores e fotógrafos andam em volta dos objetos à procura de ângulos, jogos de luz, eloquência de formas, para revelarem aquilo que lhes parece não só o mais estático dos seus aspectos, mas também o mais comunicável, o mais rico de sugestões, o mais capaz de transmitir aquilo que excede os limites físicos desses objetos, constituindo, de certo modo, seu espírito e sua alma.
Façamo-nos também desse modo videntes: olhemos devagar para a cor das paredes, o desenho das cadeiras, a transparência das vidraças, os dóceis panos tecidos sem maiores pretensões. Não procuremos neles a beleza que arrebata logo o olhar, o equilíbrio de linhas, a graça das proporções: muitas vezes seu aspecto – como o das criaturas humanas – é inábil e desajeitado. Mas não é isso que procuramos, apenas: é o seu sentido íntimo que tentamos discernir. Amemos nessas humildes coisas a carga de experiências que representam, e a repercussão, nelas sensível, de tanto trabalho humano, por infindáveis séculos.
Amemos o que sentimos de nós mesmos, nessas variadas coisas, já que, por egoístas que somos, não sabemos amar senão aquilo em que nos encontramos. Amemos o antigo encantamento dos nossos olhos infantis, quando começavam a descobrir o mundo: as nervuras das madeiras, com seus caminhos de bosques e ondas e horizontes; o desenho dos azulejos; o esmalte das louças; os tranquilos, metódicos telhados…Amemos o rumor da água que corre, os sons das máquinas, a inquieta voz dos animais, que desejaríamos traduzir.
Tudo palpita em redor de nós, e é como um dever de amor aplicarmos o ouvido, a vista, o coração a essa infinidade de formas naturais ou artificiais que encerram seu segredo, suas memórias, suas silenciosas experiências. A rosa que se despede de si mesma, o espelho onde pousa o nosso rosto, a fronha por onde se desenham os sonhos de quem dorme, tudo, tudo é um mundo com passado, presente, futuro, pelo qual transitamos atentos ou distraídos. Mundo delicado, que não se impõe com violência: que aceita a nossa frivolidade ou o nosso respeito; que espera que o descubramos, sem anunciar nem pretender prevalecer; que pode ficar para sempre ignorado, sem que por isso deixe de existir; que não faz da sua presença um anúncio exigente” Estou aqui! estou aqui! “. Mas, concentrado em sua essência, só se revela quando os nossos sentidos estão aptos para descobrirem. E que em silêncio nos oferece sua múltipla companhia, generosa e invisível.
Oh! se vos queixais de solidão humana, prestai atenção, em redor de vós, a essa prestigiosa presença, a essa copiosa linguagem que de tudo transborda, e que conversará convosco interminavelmente.

Cecília Meireles

domingo, 13 de julho de 2014

BORBOLETAS


A gente nunca tem certeza absoluta do impacto que terá na vida do outro. Se pararmos para pensar, o simples fato de existirmos já é o suficiente pra transformar completamente a vida de algumas pessoas. É inevitável. Chegamos neste mundo sem nenhuma lembrança e precisamos descobrir como é que se faz para escrever uma boa história. Elegemos os personagens principais das nossas melhores páginas, mas às vezes eles só querem ser figurantes, e somem antes do próximo parágrafo.
Escolhemos o cenário perfeito, descrevemos e mentalizamos cada detalhe, muitas árvores e o som da cachoeira, mas às vezes precisamos nos mudar para longe. Muito longe.
Quando passamos a ser independentes, nossos sonhos se tornam uma bússola, e vamos descobrindo aos pouquinhos para que lado fica a tal felicidade. Se temos boas companhias, ouvi dizer, chegamos mais rápido. Às vezes, o trajeto é escuro e perigoso. Não conseguimos andar na mesma velocidade que os outros e nos perdemos. Faz frio, chove pra caramba, e as pessoas nem percebem que ficamos pra trás. Tudo bem, porque nosso corpo precisa descansar, e uma boa noite de sono coloca quase tudo em seu devido lugar. Quase.
O mundo continua existindo mesmo quando a gente não quer participar. Isso é assustador, não é? Não somos tão importantes ao ponto de parar o trem em movimento. Olhamos ao redor em busca de algum lugar para sentar. Está tão cheio. São todos desconhecidos e não dão a mínima.
“Oi”
E agora não sabemos se devemos dizer ou demonstrar o que sentimos. É mais fácil ficar em silêncio. Nunca admitir nada. No fundo, algo nos diz que nossos segredos podem assustar.
Próxima parada: ele desce, você fica.
Olhando na janela, tudo parece muito legal. Poderíamos descer e passar o resto dos dias em qualquer uma das cidades pelas quais passamos. Mas é mais confortável ficar sentada observando e imaginando, certo? Errado. Uma hora isso cansa.
Última parada: estação futura.
Precisamos descer imediatamente, mas ainda não sabemos direito onde estamos. É um lugar novo, mas estranhamente familiar. Tudo aqui nos lembra alguém, os cheiros, as músicas, o vento, porém não há mais espaço livre. É como se tivessem preenchido todos os nossos pequenos vazios. Ao nosso redor, todos possuem pequenas cicatrizes. Não precisamos mais esconder aquilo que tanto nos incomodou.
Este é o momento.
Respire fundo e olhe para trás. Repare bem no que vê. Não eram imperfeições. Eram asas. Agora, você não é mais casulo. Você é uma borboleta. Voe!
                                                                              Bruna Vieira

E VOCÊ quer aprender a VOAR?





segunda-feira, 7 de julho de 2014

MUDAR DE CASA




Chega um tempo na vida da gente que sentimos a necessidade de mudar, seja de casa ou de nós mesmos...
Largar coisas muito enraizadas e profundas, mas que já não servem mais.
Então surge a idéia de olhar casas novas, em todos os sentidos!
Quem sabe algumas que possuam ruas estreitas que precisamos percorrer...
Ou outras que fiquem em ladeiras bem íngremes, para desenvolver nossa força.
Ou quem sabe simplificar, resgatar o velho e criar um novo lugar!
Ou talvez procurar uma nova casa, que tenha muita água por perto, para amolecer a nossa argila, que são as nossa crenças...
Muitas vezes não é necessário trocar de casa, mas olhar com outros olhos para dentro dela.
Quem sabe, olhando melhor, possamos visualizar um rio com águas transparentes, que tem a capacidade de levar embora as preocupações que não precisamos mais.
Ou ainda águas que reflitam o nosso interior!
E se ainda pudermos ir para perto do mar, que maravilha!
Quantos ensinamentos ele tem para nos dar, basta se aquietar e observar!
Lugares que tenham água por perto, ajudam a amolecer a terra seca, que são iguais a nossa dureza, rigidez e incompreensão.
Olhar através de anos, resulta em enxergar aquilo que realmente precisamos ver!
Começar a entender que a casa é a nossa morada, somos responsáveis por ela.
Podemos dar cor ou não... mas o colorido exige cuidado!
Observar se não estamos construindo muros muito fechados em volta da nossa casa.
Muros separam, pontes ligam, aproximam...
Através das pontes podemos ver o outro lado
Conhecer o outro lado muda a nossa percepção...
Nos transforma...
Começamos a ter uma nova visão!
E com a nova visão, fica mais fácil pensar na nova construção ou reforma!
Precisamos nos aproximar mais das pessoas!
Por acaso nos isolamos demais?
Ou precisamos nos aquietar mais...
Quem sabe um lugar mais alegre?
Ou precisamos caminhar silenciosamente por ruas desconhecidas...
Olhar para nossa casa requer coragem e força... é enxergar, o que precisa ser mudado e se desapegar do velho!
É olhar fundo...
E quando o desapego acontece, ele nos leva à situações caóticas, mas valiosas!
Neste momento surge uma confusão de cores e caminhos!
É a reforma...
Muitas vezes surge o frio e o escuro...
Mas como tudo passa, sempre vem o novo para clarear!
Toda reforma ou mudança traz “caos”.
Mas precisamos lembrar que vale a pena, o resultado chega!
Se a angústia bate à porta é hora de abrir e atender!
Ela vem avisar que alguma coisa precisa mudar!
Quem sabe uma pausa para refletir sobre tudo isso!
Olhar para o rio e perceber que ele corre sozinho... tem seu tempo...
Faz seu curso e segue livre...
A cada lugar que o rio passa ele vê novas paisagens... e nós, queremos nos fixar! Permanecer!
É hora de recomeçar, mudar de casa ou reformar!
Assumir responsabilidades, ser dono dela!
Com certeza não é fácil, mas vale a pena... AD

E você que mudanças deseja fazer em sua vida?